Não são apenas computadores que seguem algoritmos para a execução de tarefas. A biologia também faz uso de algoritmos, escritos numa linguagem de genes.
Sempre me perguntei: se o corpo humano surgiu de uma única célula, como esta célula sabe que tem que se transformar numa célula de osso, ou na célula do fígado? Como ela sabe que o dente da criança é de leite ou é de verdade? Como a zebra sabe pintar as listras?
Diz a teoria moderna que o corpo humano sabe disto, porque tem uma receita que diz como fazer isto, tal qual uma receita de bolo. Há transmissão de informação de pai para filho, através do DNA. O código genético é escrito numa linguagem de 4 bits (Adenina, Guanina, Citosina, Tinina), que são fisicamente complexas bases de carbono.
Aliás, o corpo humano trata as informações da mesma forma que o computador.
Como funciona um computador?
O computador utiliza a linguagem binária, e segue um algoritmo para executar alguma tarefa. Um algoritmo é uma série de instruções escritas de forma precisa, uma receita de bolo.
Abstratamente, o computador é algo que tem uma “fita” (na verdade componentes eletrônicos) que podem assumir valor 0 e 1, uma cabeça de escrita/leitura que percorre esta fita, e uma lista de instruções para agir (se 0, vá para a posição à direita, se 1, escreva 0 e pule duas posições, algo assim. Este é o conceito da máquina de Turing, que é a noção mais abstrata de computação e baseou a construção dos computadores e linguagens de programação.
E como funciona o corpo humano?
O algoritmo está escrito no DNA, uma longa fita em dupla hélice escrita na base de carbono (o maior cromossomo humano tem 220 milhões de pares de bases). Quando há a necessidade de fazer algo, esta fita se desenrola, uma fita auxiliar chamada RNA vem, copia a informação e vai embora.
E como o RNA sabe exatamente qual trecho copiar e quando parar? É análogo à cabeça de leitura do computador, algo como: agora que já fiz a instrução 1, vá para a direita se A, mas para a esquerda se G. E a biologia faz isto a partir de mensagens químicas.
O DNA é como um livro de receitas gigante. Esta fita de informação menor, o RNA, é a receita específica de uma proteína, uma célula de osso, uma célula do fígado.
Por exemplo, o DNA da zebra diz: vá fazendo células da listra preta, para a direita, depois leia a base seguinte. E o corpo vai produzindo células pretas, até chegar no ponto da lista em que o código diz: agora, vá fazendo células brancas. E cada receita de célula preta ou branca vem de um RNA específico, que contém a informação de como montar isto.
O ser de carbono e o ser de silício são máquinas de Turing.
E o câncer? O câncer é um programa que deu pau. É uma reprodução descontrolada de células do próprio corpo. São células que deveriam ter parado de se reproduzir, mas continuam o fazendo, de modo que consomem energia do corpo e ocupam o espaço dos vizinhos que realmente deveriam estar no lugar certo.
Pergunta: seria possível o ser humano mudar esta programação? Não duvide da natureza, há inúmeros detalhes e nuances que o ser humano jamais compreenderá. Isto seria algo como o computador mudar os algoritmos que o escreveram.
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